Sobre
domingo, o dia foi muito produtivo apesar de ter acordado as 14hs pois dormi
muito tarde no sábado. Perdi o café da
manhã do albergue e estava com fome, por sorte estava um sol forte e animador,
saí para almoçar e conhecer a cidade direito. Primeiro fui bem devagar sacando
as praias que são todas muito bonitas, depois fui no centro histórico aonde
fica a primeira vila do Brasil. Alí o guia falou sobre toda a história, sobre
as diferenças sociais da época, sobre as três igrejas que tem no local aonde
uma era para os ricos, outra para os pobres e outra para os indíos e escravos. Explicou
a origem do termo “sem eira nem beira” e isso também diferenciava uma classe
social de outra. As casas dos mais pobres não tinham eiras nem beiras que eram
detalhes nas fachadas das casas, próximo ao telhado, já os mais ricos a tinham.
Existem três: eira, beira e tribeira. Cada uma tinha seu significado como
possuir dinheiro, cultura, etc. Por duas vezes ao falar sobre a história ele
citou os negros e os índios de forma desrespeitosa, “isso era para os índios e
os negros e aquilo era para as pessoas normais”, deixei passar da primeira mas da
segunda vez fui obrigado a perguntar “Amigo, negro e índio não são pessoas
normais?” e ele ficou sem graça e sem resposta. Mas é um bom passeio para saber
de nossas origens e de onde veio todo esse conceito equivocado que existe até
hoje. Lá vi pela primeira vez um pé de amêndoa mas infelizmente não estava na
época. Lá fiquei sabendo também que várias residências alí são de políticos de
Salvador e que várias delas são de um tal de Moacir Franco (não o artista) que também
tem inúmeras posses na Bahia e que não é político mas sempre entra apoiando
políticos ($$$). Brasil ainda é colônia!
O farol
A igreja dos pobres
Amendoeira
A igreja dos ricos ou das "pessoas normais" ¬¬
O que restou da primeira escola do Brasil
A igreja dos índios e escravos
Sem eira nem beira
Saindo do centro histórico fui para a
balsa para atravessar para Arraial D´ajuda que é um lugar muito interessante.
Aliás, essas cidades são uma bomba cultural, é cultura para todo lado, fora que
são cidades muito bonitas, mas fiquei com a impressão de cidades baderna, os
turistas vem pelas festas (que tem aos zilhões a qualquer hora do dia e da
noite) e a cultura vem de brinde o que deveria ser ao contrário. Em Arraial
comi acarajé e aqui abro aspas necessária, acarajé só na Bahia, em qualquer outro
lugar da Brasil é fake. Também tomei umas bebidas diferentes em um bar
especializado, Shiva (vodka, maracujá, leite de côco e leite condensado) e Paz Interior
(vodka, kiwi, leite condensado e um ingrediente especial) aprendi algumas e
farei com certeza. Outra coisa que percebi é que lá pode tudo, encher a cara
até cair e dirigir, fumar maconha em qualquer lugar pois vi gente fumando do
lado de policial, na balsa, nos botecos, a polícia lá é para proteger de
violência, o que faz todo o sentido, mas beber e dirigir achei tenso porque vi
pessoas caindo e pegando seus veículos, mas também em uma cidade aonde tem a
Passarela do Álcool não poderia ser diferente. Voltei para Porto Seguro a
noite, passei na Passarela e tomei mais uma batida chamada Dança do Ventre
(lícor de kiwi, kiwi, morango, champagne e vodka) e lá encontrei com o pessoal
do Navegadores MC de lá de Porto Seguro, pessoal muito gente boa e prestativos.
Uma curiosidade é que tem escultura de pênis para todo lado nas cidades de lá e
resolvi perguntar em uma loja de artesanato, ao qual também tinha o tal falo,
ela deu uma risadinha e disse que também não sabia o motivo e que achava uma
falta de respeito em uma loja que vende imagens de santos vender esse tipo de
coisa e contou que uma vez um menino perguntou a mãe o que era aquilo e a mãe
respondeu que era uma flauta dos índios, a senhora da loja disse que ficou indignada e falou,
“Menino, isso é um bilau” e a mãe do moleque ficou puta. Mas depois perguntei a
ela de quem era a loja, ela respondeu que era dela e eu “Então porque vende os
pênis?”, ela riu e disse “Ué? (e fez o sinal de dinheiro com mão)”. Morri de rir
com ela. Depois desse papo rolou uma papo sobre orixás e afins e perguntei o que era um exú caveira (motivo do nome do post de ontem) e ela "O exú caveira é bonzinho. São cobradores de dívidas cármicas. Isto é exú.". Aqui no nordeste as pessoas tem muitas histórias, é só você ter disponibilidade para ouvir.
Indo de balsa para Arraial D´ajuda
Minha moça curtindo o passeio e o por do sol
Shiva
Voltando para Porto Seguro
Depois de ter rodado bastante voltei para o albergue, saí para jantar e dar uma volta e encontrei com alguns índios, batemos um longo papo e dentre várias coisas interessantes que me fizeram pensar bastante uma delas foi uma coisa que disse em especial, estava falando sobre a viagem e eu disse "Incrível como uma coisa tão pequena poderia ter causado a minha morte" e o índio "É, temos que prestar atenção nas coisas pequenas porque as grandes são fáceis de se ver, um homem pode conseguir desviar de flechas e outras armas feitas pelo próprio homem mas pode morrer engasgado com uma fruta por comer apressado em vez de mastigar bem, saboreando o doce".
De volta ao
albergue, conversei um pouco com pessoas queridas pela internet e fui dormir.
Ontem amanheceu chovendo forte como já disse, fiquei esperando passar e nada,
arrumei as coisas e parti em direção a Reserva Indígena de Jaqueira, lá fui
informado que não poderia gravar vídeos nem tirar fotos mas o índio que me
recepcionou permitiu que eu tirasse fotos com ele. Palestra, um passeio na
aldeia, história, comi um peixe feito por eles que não lembro o nome (uma delícia, e olha que
nem sou fã de peixe).
Saí da reserva, calibrei os pneus e fui em direção a
rodovia. No final das contas não parece acaso eu ter parado naquela cidade, e como
disse um amigo, é o efeito borboleta, um parafuso na rodovia que um dia iria “ferrar”
alguém e mudar o curso da viagem. Mas um dia eu volto.
Agora o que posso dizer
sobre a BR101 Bahia? Acho que a única coisa que posso dizer é que encontrei uma
rodovia pior que a BR101ES. Buraqueira, sinalização vertical não existe, muito
caminhão, e me borrando o tempo todo pois como no ES, só tem duas faixas, as
vezes sem acostamento e caminhão ultrapassa até em curva fechada. Tenso! No fim
das contas fiz 680km em 10 horas porque é impossível acelerar um pouco mais pelos
motivos já citados e ainda pela chuva forte e só parando para abastecer e
esticar as pernas. Agora estou esperando para ver se a chuva diminui um pouco
para dar uma volta e conhecer os pontos turísticos. Já me disseram que ontem fez sol aqui, ou seja, São Pedro é
um filadaputa! Mas por hoje é isso, devo ficar aqui até amanhã ou quinta, ainda
não sei se sigo até Aracajú pois as estradas e as chuvas estão me desanimando
apesar de já estar mais da metade do caminho de onde quero chegar, mas
realmente não sei ainda. Vou renovar as energias aqui no albergue e deixar para
decidir depois. Cada dia é um dia.
Valeu as “boas vibrações” dos amigos e
familiares.
A saga continua...
AWERI
...
O albergue aqui em Salvador
Minha moça descansando da viagem
...
“O albergue é um lugar destinado à hospedagem de jovens viajantes, ajudando no aprimoramento de sua educação e cultura e para aproximação com a paz.”
(retirado de um texto no Albergue Maracaia em Porto Seguro)
"Isso tudo era para ser nosso!"
(um índio olhando para a floresta e dizendo a verdade)
Fantástico. Você vai voltar outra pessoa...
ResponderExcluirGostei mesmo do "efeito borboleta".
ResponderExcluirClaro, foi você o amigo que disse. rs
Excluir"A frente e avante".
ResponderExcluirAcho que a Bahia é o melhor exemplo que existe no Brasil de sincretismo religioso... é muita mistura!
ResponderExcluirAdorei as críticas que vc fez no post. =)
Helio....Foi um prazer receber vc aqui no Hostel Ondina.
ResponderExcluirVou desenhar um solzinho pra chuva parar e passar.kkk
Tenho certeza que vc e sua pérola tem muito mais aventuras lindas pra curtir no nordeste.
AHAHAHA eu ri muito com a moça da loja de artesanato, gostei da sua conversa com o índio, das imagens, demais <3 tamo acompanhando ^^ boa sorte irmão '-' v
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