terça-feira, 10 de julho de 2012

Efeito borboleta


Sobre domingo, o dia foi muito produtivo apesar de ter acordado as 14hs pois dormi muito tarde no sábado.  Perdi o café da manhã do albergue e estava com fome, por sorte estava um sol forte e animador, saí para almoçar e conhecer a cidade direito. Primeiro fui bem devagar sacando as praias que são todas muito bonitas, depois fui no centro histórico aonde fica a primeira vila do Brasil. Alí o guia falou sobre toda a história, sobre as diferenças sociais da época, sobre as três igrejas que tem no local aonde uma era para os ricos, outra para os pobres e outra para os indíos e escravos. Explicou a origem do termo “sem eira nem beira” e isso também diferenciava uma classe social de outra. As casas dos mais pobres não tinham eiras nem beiras que eram detalhes nas fachadas das casas, próximo ao telhado, já os mais ricos a tinham. Existem três: eira, beira e tribeira. Cada uma tinha seu significado como possuir dinheiro, cultura, etc. Por duas vezes ao falar sobre a história ele citou os negros e os índios de forma desrespeitosa, “isso era para os índios e os negros e aquilo era para as pessoas normais”, deixei passar da primeira mas da segunda vez fui obrigado a perguntar “Amigo, negro e índio não são pessoas normais?” e ele ficou sem graça e sem resposta. Mas é um bom passeio para saber de nossas origens e de onde veio todo esse conceito equivocado que existe até hoje. Lá vi pela primeira vez um pé de amêndoa mas infelizmente não estava na época. Lá fiquei sabendo também que várias residências alí são de políticos de Salvador e que várias delas são de um tal de Moacir Franco (não o artista) que também tem inúmeras posses na Bahia e que não é político mas sempre entra apoiando políticos ($$$). Brasil ainda é colônia! 

 O farol
 A igreja dos pobres

 Amendoeira
 A igreja dos ricos ou das "pessoas normais" ¬¬


 O que restou da primeira escola do Brasil
 A igreja dos índios e escravos
Sem eira nem beira

Saindo do centro histórico fui para a balsa para atravessar para Arraial D´ajuda que é um lugar muito interessante. Aliás, essas cidades são uma bomba cultural, é cultura para todo lado, fora que são cidades muito bonitas, mas fiquei com a impressão de cidades baderna, os turistas vem pelas festas (que tem aos zilhões a qualquer hora do dia e da noite) e a cultura vem de brinde o que deveria ser ao contrário. Em Arraial comi acarajé e aqui abro aspas necessária, acarajé só na Bahia, em qualquer outro lugar da Brasil é fake. Também tomei umas bebidas diferentes em um bar especializado, Shiva (vodka, maracujá, leite de côco e leite condensado) e Paz Interior (vodka, kiwi, leite condensado e um ingrediente especial) aprendi algumas e farei com certeza. Outra coisa que percebi é que lá pode tudo, encher a cara até cair e dirigir, fumar maconha em qualquer lugar pois vi gente fumando do lado de policial, na balsa, nos botecos, a polícia lá é para proteger de violência, o que faz todo o sentido, mas beber e dirigir achei tenso porque vi pessoas caindo e pegando seus veículos, mas também em uma cidade aonde tem a Passarela do Álcool não poderia ser diferente. Voltei para Porto Seguro a noite, passei na Passarela e tomei mais uma batida chamada Dança do Ventre (lícor de kiwi, kiwi, morango, champagne e vodka) e lá encontrei com o pessoal do Navegadores MC de lá de Porto Seguro, pessoal muito gente boa e prestativos. Uma curiosidade é que tem escultura de pênis para todo lado nas cidades de lá e resolvi perguntar em uma loja de artesanato, ao qual também tinha o tal falo, ela deu uma risadinha e disse que também não sabia o motivo e que achava uma falta de respeito em uma loja que vende imagens de santos vender esse tipo de coisa e contou que uma vez um menino perguntou a mãe o que era aquilo e a mãe respondeu que era uma flauta dos índios, a senhora da loja disse que ficou indignada e falou, “Menino, isso é um bilau” e a mãe do moleque ficou puta. Mas depois perguntei a ela de quem era a loja, ela respondeu que era dela e eu “Então porque vende os pênis?”, ela riu e disse “Ué? (e fez o sinal de dinheiro com mão)”. Morri de rir com ela. Depois desse papo rolou uma papo sobre orixás e afins e perguntei o que era um exú caveira (motivo do nome do post de ontem) e ela "O exú caveira é bonzinho. São cobradores de dívidas cármicas. Isto é exú.". Aqui no nordeste as pessoas tem muitas histórias, é só você ter disponibilidade para ouvir.

 Indo de balsa para Arraial D´ajuda
 Minha moça curtindo o passeio e o por do sol









 Shiva

Voltando para Porto Seguro

Depois de ter rodado bastante voltei para o albergue, saí para jantar e dar uma volta e encontrei com alguns índios, batemos um longo papo e dentre várias coisas interessantes que me fizeram pensar bastante uma delas foi uma coisa que disse em especial, estava falando sobre a viagem e eu disse "Incrível como uma coisa tão pequena poderia ter causado a minha morte" e o índio "É, temos que prestar atenção nas coisas pequenas porque as grandes são fáceis de se ver, um homem pode conseguir desviar de flechas e outras armas feitas pelo próprio homem mas pode morrer engasgado com uma fruta por comer apressado em vez de mastigar bem, saboreando o doce".
De volta ao albergue, conversei um pouco com pessoas queridas pela internet e fui dormir. Ontem amanheceu chovendo forte como já disse, fiquei esperando passar e nada, arrumei as coisas e parti em direção a Reserva Indígena de Jaqueira, lá fui informado que não poderia gravar vídeos nem tirar fotos mas o índio que me recepcionou permitiu que eu tirasse fotos com ele. Palestra, um passeio na aldeia, história, comi um peixe feito por eles que não lembro o nome (uma delícia, e olha que nem sou fã de peixe). 





Saí da reserva, calibrei os pneus e fui em direção a rodovia. No final das contas não parece acaso eu ter parado naquela cidade, e como disse um amigo, é o efeito borboleta, um parafuso na rodovia que um dia iria “ferrar” alguém e mudar o curso da viagem. Mas um dia eu volto. 


Agora o que posso dizer sobre a BR101 Bahia? Acho que a única coisa que posso dizer é que encontrei uma rodovia pior que a BR101ES. Buraqueira, sinalização vertical não existe, muito caminhão, e me borrando o tempo todo pois como no ES, só tem duas faixas, as vezes sem acostamento e caminhão ultrapassa até em curva fechada. Tenso! No fim das contas fiz 680km em 10 horas porque é impossível acelerar um pouco mais pelos motivos já citados e ainda pela chuva forte e só parando para abastecer e esticar as pernas. Agora estou esperando para ver se a chuva diminui um pouco para dar uma volta e conhecer os pontos turísticos. Já me disseram que ontem fez sol aqui, ou seja, São Pedro é um filadaputa! Mas por hoje é isso, devo ficar aqui até amanhã ou quinta, ainda não sei se sigo até Aracajú pois as estradas e as chuvas estão me desanimando apesar de já estar mais da metade do caminho de onde quero chegar, mas realmente não sei ainda. Vou renovar as energias aqui no albergue e deixar para decidir depois. Cada dia é um dia. 
Valeu as “boas vibrações” dos amigos e familiares. 
A saga continua...
AWERI

...

  
O albergue aqui em Salvador




Minha moça descansando da viagem
...

“O albergue é um lugar destinado à hospedagem de jovens viajantes, ajudando no aprimoramento de sua educação e cultura e para aproximação com a paz.” 
(retirado de um texto no Albergue Maracaia em Porto Seguro)

"Isso tudo era para ser nosso!"
(um índio olhando para a floresta e dizendo a verdade)


7 comentários:

  1. Fantástico. Você vai voltar outra pessoa...

    ResponderExcluir
  2. Acho que a Bahia é o melhor exemplo que existe no Brasil de sincretismo religioso... é muita mistura!
    Adorei as críticas que vc fez no post. =)

    ResponderExcluir
  3. Helio....Foi um prazer receber vc aqui no Hostel Ondina.
    Vou desenhar um solzinho pra chuva parar e passar.kkk
    Tenho certeza que vc e sua pérola tem muito mais aventuras lindas pra curtir no nordeste.

    ResponderExcluir
  4. AHAHAHA eu ri muito com a moça da loja de artesanato, gostei da sua conversa com o índio, das imagens, demais <3 tamo acompanhando ^^ boa sorte irmão '-' v

    ResponderExcluir