sábado, 21 de junho de 2014

Pé na estrada

Pé na estrada mais uma vez mas dessa vez decidi não ir de moto por muitos fatores, entre eles $$$. Estava programado de ir até Foz do Iguaçu nas minhas férias desse ano mas coloquei na ponta do lápis e vi que só a gasolina e os pedágios dariam o dobro do que viajar de avião para países da América do Sul, isso porque a Copa do Mundo ajudou. Todos os gringos indo para o meu país deixaram as passagens para outros países bem mais baratos, pesquisei e decidi conhecer o Chile. Ao escolher as passagens tinham 3 opções de conexões, uma em Buenos Aires que não faço a mínima questão de voltar antes de conhecer outros lugares, outra em Assunción que também não me interessou e a última em Montevidéo que escolhi na hora. Cheguei no aeroporto de Guarulhos no dia 12 a noite e o aeroporto lotado de gringo indo embora depois de ver o jogo de estréia, parecia um terminal de transcol. Peguei a conexão e no dia 13 a 1 da manhã cheguei na terrinha maravilhosa e já estava 14°, que depois foi para 12° e chegou a 8° na madrugada, mas no aeroporto tem aquecedor e não estava tão tenso. Fiquei teclando com Karini até as 5hs pois teria que esperar até as 6hs para os ônibus voltarem a rodar pois o aeroporto fica em Carrasco, 22km de distância, o taxí do aeroporto até o centro de Montevidéo ficava em U$50 e o ônibus foi R$4! Peguei o ônibus e saltei na Plaza Independencia e ainda estava muito escuro, fiquei rodando pelo centro e só foi clarear quase as 8hs com tudo fechado e aí eu soube que só abriam as lojas a partir das 9hs e o frio estava rachando. Sentei em uma praça e fiquei observando o movimento das pessoas passando e indo para o trabalho ou escola. Por volta de 9hs vi um pessoal montando umas barracas e fui procurar gorro, luvas e cachecol para comprar porque as que trouxe tinham ficado na mochila e eu não sabia que despachava direto para o destino final, achei um gorro e já ajudou bastante. Rodei mais um pouco no centro matando a saudade dessa cidade linda. Fui até a Urugrow, que é a primeira loja especializada para quem quer cultivar maconha mas ao chegar lá estava fechada e já ia dar 10hs, sentei do outro lado da rua e fiquei esperando, um pouco depois entrei em uma padaria que tem do lado e perguntei que horas abria e me disseram que geralmente era as 9hs, geralmente!!! Dei mais uma volta no centro para esquentar e passar o tempo pois só esquentou mesmo um pouco por volta de 10:30hs, até aí estava bem frio e então voltei as 11hs e nada. Loja para maconha não tem hora para abrir? O cara devia estar lesado! Fiquei chateado pois em 2011 não deu para ir e de novo não consegui conhecer a loja. Fica para a próxima. Ainda estava bem cedo e meu vôo só seria as 18hs, então resolvi andar até Pocitos para tentar rever a galera do Hostel Unplugged, depois de uma boa caminhada encontrei o hostel até com certa facilidade, não tinha ninguem que conheci, fui andando até a praia que fica bem perto, sentei e observei como sempre faço, fui comer uma besteira e matar a saudade da cerveja Patricia que não encontro mais no Brasil e aproveitei para provar a Pilsen que me impressionou muito, que cerveja boa! Já estava dando a hora do avião e voltei para o aeroporto.


Cheguei em Santiago as 19:30hs em meio a gritos de gol, Chile ganhando de 2x1 e quando fui trocar moeda fez mais 1 e a gritaria voltou! Chi Chi Chi le le le! Todos gritando em todos os lugares. Perguntei quanto ficava o taxí até o centro e mais uma vez a facada, U$30, e mais uma vez fui de ônibus e paguei R$2. Nas ruas todos com bandeiras gritando e festejando, em cima dos carros e dos ônibus, parecia final da Copa e que o Chile tinha sido campeão. Futebol realmente é uma paixão na América do Sul. No Uruguai também só falavam de Copa. Lá ouvi várias vezes pessoas comentando sobre o jogo do Brasil e reclamando do resultado, dizendo que não houve o penalti e que o resultado justo seria 2x2. Cheguei no hostel no centro, fiz o check in, tomei um banho, deixei as coisas no quarto e fui dar uma volta. Fui procurar um bar perto que vendesse cerveja artesanal, fui até a Avenida Brasil, que tem vários bares e pedi uma Kunstmann Torobayo Ale, estava sentado sozinho e chegou um chileno comemorando e me perguntou se tinha um cigarro, falei que não e então me perguntou de onde era, “Brasil” respondi, e aí veio a questão que mais ouvi até o momento: “A Copa no Brasil e você aqui?”. Tinha um casal sentado na mesa ao lado e entraram na conversa, nos chamando para sentar com eles, o rapaz recusou, se levantou e saiu balançando a sua bandeira, me sentei com eles e batemos longos papos sobre futebol, política, cultura dos dois países e todo tipo de comparação. Muito legal. Uma coisa do Chile que impressiona são os chilenos, povo extremamente simpático, educado e correto. A ditadura mudou o povo fazendo eles serem cidadãos de verdade, coisa que infelizmente não aconteceu no Brasil. O Chile é o melhor colocado no Índice de Desenvolvimento Humano, está em 40 (enquanto o “rico” Brasil está em 85), e isso é bem visível em tudo aqui, saúde, salário mínimo é bem maior que o nosso, transporte público é excelente, só para dar alguns exemplos. O povo se orgulha muito de seu país, são realmente patriotas e conhecem a fundo a sua própria história. Não tem mendigos aqui, não vi nenhum em todos esses dias, não sei se isso é alguma ação durante o inverno ou se realmente não tem. Outra coisa que percebi é que tem muitos cachorros na rua, muitos mesmo, como diria um amigo, um dilúvio de cães. Também não tem lixo na rua, nenhum lixo, as pessoas seguram os lixos até encontrar uma lata de lixo, que tem para todo lado. A sensação de segurança é enorme, tem polícia (que são chamados de carabineros) para todo lado. As pessoas são bem corretas aqui, por exemplo, todos andam na faixa e esperam o sinal ficar vermelho, quando digo todos são todos mesmo. Se a faixa estiver longe as pessoas andam até ela, no Brasil o povo atravessa a rua no vermelho e fora da faixa, apesar de esse também ser o meu costume, ao perceber isso nos chilenos fiz igual. Quando alguém passa fora da faixa o no vermelho já se sabe que não é chileno, e isso são eles mesmos que falam. Voltando ao dia 13, depois de provar algumas bebidas locais como o terremoto que é uma delícia mas que bate com força porque é a combinação de duas bebidas (piñata quem tem 12% e fernet que tem 38%) daí joga sorvete por cima e mistura para disfarçar o álcool, fui lanchar e ver um pouco da comemoração (louca) dos chilenos, voltei para o hostel, me encontrei com o Blanco que é um gato de um vizinho que toda noite aparece no hostel para receber uns afagos do pessoal. E por falar em hostel, vou abrir outro parênteses com uma frase que um escocês que está aqui no hostel e está passeando pela América do Sul disse: “No Chile tem mais brasileiro que no Brasil!”, e não é mentira não, acho que todo mundo resolveu fugir da Copa pois tem muito brasileiro aqui. Mas então, fiquei batendo um papo com a galera e fui dormir. No dia seguinte fiquei por perto conhecendo a cidade e conversando com pessoal aqui do hostel. Fiquei vendo também um pessoal fazendo acroyoga, nunca tinha ouvido falar, um yoga cheio de acrobacias. Uma coisa tensa aqui é que a água é salgada e difícil de matar a sede e o clima muito frio também, claro. A menor temperatura que peguei aqui até agora foi 3°, mas aqui no Chile parece mais tranquilo de suportar o frio do que na Argentina e no Uruguai, não sei como explicar isso. Bom, visitei vários lugares lindos como a La Moneda para assistir a troca de guardas que acontece dia sim, dia não, fui no Museu de Arte Pre-Colombiana, fui no Zoológico, fui no Funicular (um tipo de elevador que leva até o topo da montanha) do Cerro San Cristóbal e esse último sim, é perfeito, visual matador das cordilheiras do andes e de toda a capital! Provei bolo de café e achei uma delícia, um doce com morango verde e também achei muito gostoso, churros gelado com um açucar esquisito e que mancha a roupa, comi chaparritas que é um pão tipo croissant com uma línguiça dentro, comi jamon queso amasado que é um pão grande amassado na chapa com queijo e presunto. Cervejas, provei várias, Cristal e Escudo que são as comerciais mais consumidas aqui, a primeira lembra as nossas industrializadas mas ainda assim é melhor, a segunda é muito boa e todas as duas são lager, Kross red ale, fui a Valparaiso e Viña del Mar e lá provei uma das melhores amber ale que já provei que foi da micro cervejaria artesanal Del Puerto, provei também a linha da Mestiza e Altamira da cervejaria artesanal Altamira, um brewpub sensacional e lá conheci com detalhes toda a história da cerveja no Chile que começou alí em Valparaiso em 1825.


Até aqui foi digitado até dia 17, mas ainda não tinha postado porque ainda não tinha achado internet que preste e as fotos e vídeos sempre davam erros ao enviar.



E por falar em Valparaiso, Viña del Mar é muito bonito mas Valparaiso é perfeito, uma cidade que faz você pensar que existe um erro na matrix de tão fora dos padrões que sempre nos são empurrados goela abaixo. Bairros em morros que, de longe, lembram muito as favelas brasileiras só que lá moram pessoas de todas as classes sociais. Outra coisa que me impressionou muito lá foi a devoção pela arte e tenho dois grandes exemplos disso, primeiro de uma moça que estava tocando violino e ganhando uns trocados de quem passava, e fiquei observando enquanto tomava minha cerveja, acabei a cerveja e fui lá conversar com ela, ela é chilena e faz faculdade de música e todo dia que sai da faculdade ela faz isso por uns 30 minutos a 1 hora para ajudar a pagar os estudos, o outro exemplo é um brasileiro pintor chamado Rodrigo que veio a passeio e acabou ficando e já está lá a 12 anos, hoje tem família, carro, moto, casa e tudo construído com a arte de rua que ele vende, ele disse que “aqui o povo valoriza arte, coisa que infelizmente não acontece no Brasil” e não tem nenhuma inverdade nisso, infelizmente. Fora esses dois exemplos, para qualquer lugar que olhe ou vá tem arte, e muita arte. Enfim, estou gostando do Chile, é um país muito justo, talvez o mais justo da América Latina. Dei mais uma volta rápida em Valparaíso e regressei para Santiago para no dia seguinte fazer o check-out. Estava muita festa dos brasileiros no hostel mas eu não estava afim e subi para digitar mais (esse texto que estão lendo) e descansar pois decidi conhecer um pouco da Bolívia.



Chi Chi Chi le le le

Fui direto para La Paz no dia 18 e já senti forte o tal soroche (como os nativos chamam) ou mal da altitude e olha, é muito tenso. Já chegando procurei a área médica para respirar oxigênio, melhorei mas com essa mochila pesada logo fiquei mal de novo, consegui andar até o ponto de mini bus (são os ônibus daqui, tipo mini vans) que me levou até o centro de La Paz (não vou nem comentar dos taxi dessa vez) e foi muito dificil subir a ladeira até o hostel, dava uns 10 passos e sentava. Chegando ao hostel, fiz o check-in, tomei um banho bem quente, vários chás de coca e fui durmir por volta de 20hs (essa noite fez -5°) e só acordei as 9 do dia seguinte, lesado, com muita dor de cabeça, tomei um café reforçado, tomei mais dois copos de chá e voltei para o quarto, dormi mascando a folha e só acordei por volta de 14:30. O soroche é tenso e é causado principalmente por conta da oxigenação reduzida no seu sangue e pode (e vai) manifestar-se através de alguns sintomas como: dor de cabeça, fadiga, náusea, tontura, falta de ar, nariz sangrandro um pouco e coração palpitante, e diziam que o ideal seria ficar um dia inteiro descansando, tomando água e chá, mas para mim não resolveu. A noite é mais tenso por causa do frio, então só consegui dar uma volta no centro ontem a tarde e hoje a tarde. E esse lance de sol de manhã e frio bizarro a noite me destrói! Tem muitos passeios por perto de La Paz que gostaria de fazer como por exemplo ir ao topo do vulcão desativado, mas provavelmente cairia lá dentro porque La Paz é 3660 metros e o Laguna Verde ou Vulcão Licancabur tem 6000 metros. Resolvi então fazer o check-out hoje passear em Tiwanaku ver as ruínas e depois ir para Copacabana ver o Lago Titicaca mas não deu, fiquei preso aqui em Tiwanaku coisa que sinceramente não queria que acontecesse mas cheguei aqui as 17hs e aqui é mais alto que La Paz (aqui é 3845 metros), e outra, já estava -8° quando cheguei e a expectativa é que faça -20°/-25° e estou com medo de verdade do que é isso (de tanto a Karini falar de pneumonia) porque estou debaixo de 4 cobertores grossos e estou sentindo muito frio. Hoje é dia da festa de solstício e é especial porque só acontece uma vez por ano (começou a tocar Karrie nesse momento em espanhol no palco =P), quando cheguei vi os nativos fazendo a festa com os trajes típicos mas a festa mesmo começa a 00:00 que quando os brujos e brujas locais fazem as bruxarias e dão alucinógenos para os visitantes tomarem em volta da fogueira, mas sinceramente acho que não terei coragem de sair de debaixo desses cobertores. Enfim, não estou gostando da Bolívia principalmente por causa do soroche, mas o povo também é muito mal educado e mau humorado, o bom é que tudo é muito barato para nós turistas. Estou agora revezando as mãos de debaixo do cobertor para digitar. E agora que bati meus recordes e saberei o que é 20° negativos, se alguém falar que é tranquilo pode saber que não é mais meu amigo(a). [até aqui digitei até umas 21hs local, porque aqui e no Chile tem uma hora a menos de direfença e eu não sabia, voltando a digitar] Fui lá em baixo pegar o 3g alugado por hora porque não tem wifi e me deparo com uma lareira, o que fiz? Sentei na frente dela por uns 20 minutos e fiquei conversando com os funcionários bolivianos, eles adoram frio, todos eles. O pessoal passando todo encapotado para ir para a festa e eu pensei: "Fuck this shit!". Não vou sair mesmo! Falei que bateria o recorde de -20° mas acho que não vai rolar, tá 3° agora. Aqui é muito frio porque é uma cidade cercada por montanhas em uma baixada. Ao sair da frente da lareira pedi chá de coca (sim, vou enjoar disso) e biscoitos de coca que fizeram eu melhorar um pouco. Ao subir novamente estava rolando uma palestra ministrada por um arqueólogo e artista plástico sobre Puma Punku (lembra Guilherme que sempre te falava desse lugar? Aquele onde tudo é simétrico? Dá para ver da janela aqui. O centro arqueológico está a 200m daqui). Ele falou de alienígenas, de como o círculo rege todo o nosso universo, enfim... pirante! Apelaram agora, Sweet Child O' Mine, hehehe, mas até que tocam direitinho, tocam algumas músicas regionais com flauta e tambores depois tocam outras internacionais em espanhol. Dá para ver as luzes da janela, está a umas 4 quadras, mas não rola. Meu nariz já está escorrendo até. Chega. Para uma primeira postagem ficou gigante, mas... fuck off!



Observação 1: Melhor compra da minha vida foi esse poncho da foto e um cachecol grosso que estão me salvando.

Observação 2: Elogiaram o meu espanhol várias vezes no Chile e aqui, isso quer dizer que o programa Rosetta Stone é realmente muito bom. Valeu Christopher, que me indicou o programa. Dessa vez estou me virando bem melhor do que da última vez que estive nos hermanos.

Observação 3: Que trip louca! É sério! Pelo menos uma vez na vida todos deveriam fazer uma trip dessa! Renova todas as baterias!

Observação 4: Estou tomando chá de coca de novo. Eu procurei saber e é TRÁFICO levar até os cházinhos tipo Mate Leão para o Brasil. Tem gente que arrisca e consegue mas não vou arriscar. Queria que a galera provasse. Sacanagem!

Observação 5: Vou postando as fotos e vídeos a medida que der. Tá osso!

5 comentários:

  1. Rapaz vc não sabe com foi interessante ler este post..e olha que são 03:00 da madruga e estou num quarto de hospital...
    Abraço Hélio, continue escrevendo e boa viagem!!!

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